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- A vida social na rede social
Postado por:
Mundo Raimundo
domingo, 21 de julho de 2013
Ávila Oliveira escreve para a coluna O Topo é meu!
E
mais uma vez Márcio ficara de fora da festa da turma. Ao questionar o motivo
pelo qual não havia sido convidado, Helen – a colega que senta-se na fileira à
sua frente – resmunga, categórica, ‘Mas foi postado no grupo da turma!’.
Reduzido a tal obviedade, Márcio não replicou. Além disso, não poderia
perguntar, naquele momento, como não soubera que haveria tal confraternização
de sua turma no salão de festas do Jéferson. 'Confraternização: alguém ainda
usa essa palavra?' Melhor não perder tempo com isso agora, pois Matemática
sempre foi o seu calcanhar de aquiles,e o professor já iniciara a aula de
logaritmos.
‘Até
semana que vem, galera’: era o momento em que a voz do professor sobrepunha o
sinal estridente do intervalo. ‘Por que tão longo? Alguém é surdo?’ Márcio
espera, paciente, que seus colegas de classe saiam, organizadamente, em direção
ao pátio do cursinho. ‘Quantas pessoas cabem nesta sala? Mais de 200 alunos?’ –
às vezes esquecia que já era o seu
terceiro ano de vestibular e que não teria tempo suficiente para
familiarizar-se com tantos rostos. Talvez preferisse ficar na sala de aula estudando
durante o intervalo, mas era segunda-feira, e aquele seria o momento de rever
os amigos. Eram poucos, porém pareciam ter muitas histórias para contar.
‘Instagram?
Não uso. É preciso ter iphone para isso?’. Realmente, estava difícil ter vida
social sem fazer uso da tecnologia. Perdia as festas da turma; não via as fotos
dos amigos; não entendia as piadas dos professores sobre vídeos postados.
‘Postar’: sempre foi bom em Português, o problema são esses verbos da
informática. ‘Tenho que fazer um facebook!’.
‘Agora
vai ser gente’, disse Joana. ‘Finalmente, bicho do mato!’, reforçou Jéferson.
Aquela decisão fora amplamente apoiada por seus amigos, e Márcio resolvera
ingressar nessa rede social: ‘Dá para falar com todo mundo?’. ‘Até com a Dilma
Bolada, se tu quiseres!’, soltou Helen, acompanhada por gargalhadas. Márcio não
entendeu, mas também riu. ‘Vou fazer um facebook!’: nenhuma de suas resoluções
- até então - gozavam de tanta aprovação. ‘O professor já subiu’, gritou Pedro,
correndo enquanto dava as últimas mordidas no cachorro-quente.
É
novamente segunda-feira. De seis amigos da turma, Márcio já ultrapassava a
conta de sessenta amigos no seu facebook. Uma semana e dezenas de vídeos
assistidos. Uma semana e muitas imagens visualizadas. Uma semana de facebook e
uma dezena de dúvidas. Uma semana e Márcio abandonara o facebook. Não poderia –
bem que tentara – entender aquilo tudo. ‘Ah, não leva tudo tão a sério’,
dissera Pedro na saída da aula. ‘Ué, mas o perfil não é algo pessoal?’,
retrucou Márcio. ‘Sim, mas não é filosofia aquilo lá, brother’. Não adiantou.
Márcio cancelou sua conta no facebook.
Márcio
não entendia muitas coisas. Não entendia como seus contatos curtiam suas
postagens (enfim, entendera o vocábulo), mas não o cumprimentavam na saída da
aula. Também achava estranho que o colega gay (ao menos assim se assumia na
turma) se dizia católico em seu perfil. Pensou em adicionar o seu ex-professor
de sociologia, mas decepcionou-se ao ver postagens machistas em sua linha do
tempo. Tomou a resolução de abandonar a rede – dessa vez, sem ovação – ao ver
que um colega, sempre calado e sozinho na sala de aula, assumia posturas
agressivas e intransigentes nas postagens alheias (e com isso aprendeu mais um termo
da internet: ‘troll’).
Não
entendia muitas coisas. Fez uma lista dessas dúvidas, mas jogou fora juntamente
com o rascunho dos logaritmos. Talvez Márcio pudesse publicá-las, mas nos
comentários só receberia carinhas (emoticons, era essa a palavra certa) com a
língua de fora. Talvez Márcio não tivesse nascido para ter essa vida social.
:p
ResponderExcluirBrincadeira, não pude resistir...
Cara, cê me transportou de volta a subir escadas, pude até imaginar a carinha acabrunhada do Márcio e seu amigo Pedro, cheio de espinhas ainda...
Tento ser eu mesma, mas como não é um mundo tridimensional as coisas não são o que parecem ser! Ninguém vai no seu perfil e escreve seus defeitos, acho que assim não iríamos ser adicionados por ninguém! O mundo, a sociedade quer pessoas lindas e perfeitas, mesmo sabendo que isso não funciona desse jeito! Acho também que depende muito da personalidade da pessoa..eu por exemplo sou extrovertida,e me exponho mais, já uma pessoa tímida não! Nunca vamos ser nas redes sociais cópias fiéis de quem somos no mundo físico. Mas, eu prefiro tentar ser mais autêntica possível! Vlw! Erica Heemann
ResponderExcluir"Helen" não sou eu ,né??? hein, hein??? :D
ResponderExcluirme lembrou uma vez que uma amiga minha postou uma foto gravidíssima, com um barrigão já estourando, e eu trí feliz escrevi"Parabéns, fulaninha, pô, que legal, tu vai ser mamãe!!!" Algo assim, e ela ríspida me respondeu "Só agora, Raquel Lima!!!??". Fiquei 0_0
ResponderExcluirNunca ela me ligou pra contar ou me mandou um e-mail, o erro foi meu né, que perdi o EXATO momento que ela postou a novidade da gravidez, enfim...