Postado por: Mundo Raimundo segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Ane Brasil escreve para a coluna Soy Contra!

    ONDE ESTÁ O AMARILDO? CADÊ O AMARILDO?  São perguntas que estão povoando as redes sociais nas últimas semanas. Não sei quem escreveu que o caso Amarildo se conecta ao caso Rubens Paiva por que ambos entraram vivos em um estabelecimento das forças de segurança do Estado (Rubens Paiva no DOPS e Amarildo na UPP) e nunca mais foram vistos... mas Rubens Paiva, parlamentar, homem público  foi vítima de um Estado de exceção enquanto Amarildo, preto, pobre, paisano, foi vítima de um Estado onde a exceção é a regra. Embora Amarildo seja uma exceção. Quantos outros entraram e não saíram de unidades de segurança? Quantos foram mortos em “autos de resistência” neste ano no Brasil? Você sabe? Pois eu não sei, teria que recorrer a São Google pra te responder... Acontece que cada um desses sujeitos – não os chamarei de cidadãos, pois tiveram a sua cidadania negada desde sempre – tem nome, sobrenome, uma mãe, uma história, amigos...
    E por que não sabemos quem são? Ora, porque  as suas mortes são parte do nosso quotidiano urbano, porque nos foram descritos como ladrões, malfeitores, marginais... por que não houve uma voz dissonante pra nos dizer o contrário disso. E por que diabos com Amarildo foi diferente?
    Porque Amarildo não foi só uma vítima, porque Amarildo foi a gota d’água de um Rio de jaNEURAS onde a polícia se tornou uma facção criminosa a serviço do Estado. Porque Amarildo foi vitimado num momento em que a grande impressa não é mais a única detentora da verdade, agora temos um wi-fi na mão e uma ideia na cabeça... podemos perfeitamente nos comunicar com Rio, Beirute, Angola, Damasco... sem sairmos do sofá.
    Amarildo não é um desaparecido político, é um desaparecido da política de segurança do Rio de Janeiro, é um desaparecido do sistema político econômico no qual vivemos, segundo o qual todo o pardo é suspeito, todo o preto é culpado e todo o pobre é ladrão. Há um rumor de que o corpo de Amarildo teria sido transportado num caminhão de lixo para um aterro sanitário. Não há certeza para isso. As ‘otoridadis’ políticas e policiais do RJ vêm tendo um comportamento vergonhoso nesse caso todo, inventando a cada momento uma desculpa mais esfarrapada que a outra. A população da Rocinha vem acompanhando, com dor, com tristeza e com raiva a tudo isso... mas não acompanha calada não, ela vem se manifestando, vem descendo do morro para o asfalto a fim de manifestar sua dor, sua ira e esfregando na cara do poder o seu protagonismo político diante de tudo isso. Não, nunca mais a Rocinha será curral eleitoral, nunca mais será rebanho. A revolta pode até não ser produtiva, mas, com certeza destruirá algumas velhas práticas.

    E agora, a cereja do bolo: 

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  1. Medo é o que eu sinto de viver numa democracia disfarçada. Em uma ditadura aberta, pelo menos há um inimigo claro, mas numa mentira não há a quem recorrer. Não defendo a ditadura, obviamente. Mas não defendo a democracia porque claramente não há condições de que os direitos sejam iguais. Jamais vivemos em uma democracia. Neste sistema o poder e/ou o dinheiro são o que garante mais ou menos cidadania.
    Muito corajoso da tua parte, Ane. Nunca se sabe o que pode acontecer àquele que denuncia. Outros Amarildos já existiram e seguirão existindo. Mais pessoas assassinadas por filmar crimes cometidos pela polícia existiram e seguirão existindo. Há que se repensar o nosso conceito de justiça, igualdade, segurança e liberdade. De cabo a rabo.
    Parabéns!

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